EDITORIAL

Descaso

Os riscos inerentes à ponte, construída na década de 1970, eram bastante conhecidos por quem trafega habitualmente pela via

acritica.com
30/09/2022 às 07:54.
Atualizado em 30/09/2022 às 07:54

(Foto: Junio Matos)

Como quase todas as tragédias, a queda da ponte sobre o rio Curuçá, na BR- 319, é mais um exemplo de situações atrozes que poderiam ser evitadas. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) – a quem compete a manutenção da rodovia – já havia interditado a ponte para veículos pesados. Os riscos inerentes à ponte, construída na década de 1970, eram bastante conhecidos por quem trafega habitualmente pela via. O DNIT tomou o cuidado de instalar uma placa avisando sobre a proibição quanto a caminhões. Infelizmente, em nosso País, essa atitude – que teria total eficácia em diversos países – é inócua. Se não houver fiscalização ativa e controle rigoroso, a proibição é solenemente ignorada. E foi o que aconteceu, com consequências trágicas. 

A ponte sobre o rio Curuçá foi construída há várias décadas e nunca contou com os adequados serviços de manutenção. Agora, com a tragédia consumada, a procura por culpados se intensifica, porque há mais de dois mil anos, é sempre mais cômodo apontar um único responsável, crucificá-lo e seguir a vida tranquilamente. E isso se torna ainda mais oportuno às vésperas da votação. O que dizer aos parentes e amigos dos mortos e desaparecidos? Para estes, a busca por bodes expiatórios não faz sentido. 

É muito importante que, neste momento, as autoridades competentes estejam refletindo a respeito do fato de que a ponte que caiu é apenas uma de muitas outras – em condições idênticas ou piores – instaladas ao longo da rodovia. São graves acidentes absolutamente previsíveis esperando para acontecer. São vidas que podem ser perdidas por motivos que podem ser evitados se as medidas certas forem tomadas agora. 

Lamentavelmente, as péssimas condições da rodovia BR-319 são, acima de tudo, uma bandeira política. Há décadas a situação da via só piora. Mas quando chega o período eleitoral, surgem defensores por todos os lados; expedições de parlamentares percorrem todo o trajeto para mostrar comprometimento em programas políticos. E a estrada continua na mesma.

Desta vez, houve vítimas fatais. Vítimas do descaso, do desinteresse, da politização de um problema real. Já passou da hora do povo que depende da BR-319 ser tratado com a seriedade e respeito que merece.

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